Família

Retorno ao trabalho e nova rotina

Como conciliar todas as responsabilidades de maneira saudável

A mulher moderna vive a constante busca pelo equilíbrio entre maternidade e carreira. Entre o ideal e o real, o que tem predominado na sua rotina? 

Saiba mais sobre a importância da presença materna nos três primeiros anos de vida da criança, sobre como não fazer com que cobranças externas resultem em autocobrança e dicas para um puerpério mais tranquilo e no seu tempo.  

A cobrança pela mãe “perfeita”

O real, o ideal e o equilíbrio.

A culpa sempre atravessará a jornada de uma mãe. Seja no setênio da mãe com o bebê, da mãe com sua criança maior ou da mãe de adolescente. A culpa permeia, porque vem da idealização desde a gestação, e existe o fio condutor do que é o ideal e o que é real. Toda mulher quer para si o parto perfeito, um puerpério tranquilo e uma volta ao trabalho equilibrada junto à vida com os filhos. Como naquela famosa família do comercial de margarina em que tudo é pleno, a casa está impecável, o bebê não chora e a mãe está sempre linda. Isso não existe. E está tudo bem. 
Na vida, existe o fio do que é real e o que é ideal. E quando bate a culpa, é importante saber de quem e quais são essas responsabilidades e, principalmente: o quanto essa culpa pode representar uma autocobrança dentro daquilo que foi idealizado. É necessário se acolher e ser gentil consigo mesma.  Não adianta sermos duros demais, pois na maternidade ou paternidade não existem erros intencionais, muito menos uma vida perfeita e florida. As situações só mudam de endereço. É necessário não se comparar e sim olhar para as circunstâncias, se acolher e se acalmar.  

Cobranças externas resultam em autocobrança. Saiba que antes de ouvir a opinião de terceiros, é importante que você se escute e entre em um consenso com o companheiro ou companheira para que, juntos, encontrem o melhor caminho.  

Ao olhar para a construção da família de forma individualizada, fica mais simples entender a rotina e recalcular a rota no dia a dia. É necessário ver o que é possível para cada um.  

Se para a sua rotina é funcional que seu filho passe o dia na escola, opte por isso. Se é viável o home office ou se existe de fato um tempo exclusivo para ser dedicado a essa criança, aproveite. Toda adaptação requer renúncia até que mãe e filho estejam confortáveis. 

Construindo a base para o futuro

O valor dos primeiros 03 anos de vida

Na antroposofia falamos da fase do andar, falar e pensar que vem nos primeiros três anos. Se isso fosse possível para todos, ter por perto quem deu a vida a essa criança sem precisar de grandes terceirizações, seja no berçário, com uma funcionária, ou com os avós, seria um presente. Os primeiros três anos de vida são uma construção.  

É uma fase em que muita coisa acontece. Nessa idade, tudo é intenso demais. Tudo acontece, tudo se transforma, então parece que é um tempo longo, quando você está imersa nele, mas ao mesmo tempo é muito cheio de informação e de descobertas, é maravilhoso.  

Não é à toa que em vários países europeus, por exemplo, a licença-maternidade é de 2 anos, podendo ser compartilhada entre o casal. Aqui no Brasil são de 4 a 6 meses de licença e nos Estados Unidos 6 semanas de licença-maternidade.  

A gente pensa: “Mas por que nos países desenvolvidos a licença é tão prolongada?” “Qual é a importância disso?” Então, você imagina que em segurança, inclusive financeira, o casal pode estar presente com a criança nos primeiros dois anos de vida.  

Não podemos dizer que alguém “abandonou a carreira”. Tudo pode ser repensado e retomado, mas se é uma possibilidade, que seja acolhida, afinal, será bem-vinda para a criança. É um presente.  

É necessário acompanhar com terapeutas e familiares como caminha o desenvolvimento dessas relações, para que elas não atravessem esse portal da autonomia do desenvolvimento, transformando-se em um apego excessivo ou doentio. 

Puerpério e carreira

Descobrindo seu próprio tempo e equilíbrio

O tempo passa, mas mãe é sempre mãe. E é normal ver algumas divergências de opiniões por parte de pessoas mais velhas, geralmente as avós, quando o assunto é deixar os filhos em tempo integral na escola para que as mulheres possam retomar sua carreira. 

Há 50, 60, 70 anos as mulheres não estavam no mercado de trabalho como atualmente e não precisavam de uma rede de apoio tão elaborada. A multiplicidade de papéis que vemos hoje é diferente da época de nossa avó ou mãe que, muitas vezes, acabam se enxergando em suas filhas e netas. Por isso, é natural a estranheza e a insegurança de pensar que alguém não está agindo igual.  

A mulher vive muitos conflitos, entre eles o gostar de trabalhar. Existem mulheres que gostam e sentem falta do trabalho e alívio em ver pessoas, em tomar um café com colegas de trabalho e falar de outros assuntos além da maternidade, e existe um grupo de mulheres para quem isso é mais doloroso, seja por não se relacionarem bem no trabalho, ou no equilíbrio das prioridades, em que o filho ganhou uma proporção tão grande que ela não consegue se ver pronta para tal passo.  

O tempo do puerpério é muito variado e, quando se está imersa nele, muitas vezes não há a separação de quem é a mãe e quem é a mulher. Quando essa atmosfera vai passando, é possível conseguir olhar para fora e se atentar a coisas diferentes. Ao se deparar com o ‘novo’ de novo, é o momento dos questionamentos: “O que eu perdi?”, “Como será que está o mercado de trabalho?”, “Será que eu vou dar conta de tudo?” 

A mulher que tem o privilégio de uma rotina bem definida passa a ter o “próprio tempo” do puerpério e, com isso, passa por essa fase com mais tranquilidade.  

Permita-se sempre olhar para o seu próprio tempo. Olhe para si. Encontre a melhor maneira de encarar o puerpério, de voltar ao trabalho, à academia. É uma jornada única, assim como cada mulher. 

Além do Relógio: o tempo na Antroposofia

Os corpos sutis que permeiam o nosso corpo.

Atualmente, temos prazos contados para tudo. Tempo para voltar ao trabalho, tempo para a criança entrar na escola, para a criança estar falando ou andando. Enquanto o relógio conspira contra o ritmo natural das coisas, a antroposofia tem um olhar muito delicado para essa questão do nosso próprio ritmo. Os corpos sutis que permeiam o nosso corpo.  

Nosso ritmo semanal de uma semana é de sete dias. Ela é o ritmo da nossa astralidade, do nosso corpo de emoções. Um ciclo completo de uma semana vivendo é a regência de sete planetas, que são as sete influências planetárias principais.  

Já o ciclo vital, o ciclo etérico, é um ciclo lunar que dura um mês. Não é à toa que a mulher tem um período menstrual regido pela lua. Nosso período de vitalização é de um mês. Muita gente não sabe, mas, tradicionalmente, temos um mês de férias. Tecnicamente é a consolidação das leis do trabalho CLT em que o funcionário tem direito a um mês de férias por ano. Isso porque é o tempo que a gente precisa para se revigorar, é o ciclo completo do nosso corpo etérico, do nosso corpo vital. Então, para um descanso você precisa de um mês.  

E para a recuperação do corpo físico, a gente precisa de um ano. O ritmo da vida, o nosso ritmo diário, o ritmo semanal, o ritmo mensal, o ritmo anual, ele trabalha com esses corpos sutis.  

Ao estabelecer que a licença-maternidade é de quatro meses, é necessário pensar no que acontece durante este tempo nos seus próprios corpos e no da criança. Não podemos estar abaixo dessas regras.  

Quando falamos no tempo, no tempo individual, no tempo próprio, no tempo astral, vital, físico e etc, é tudo muito relativo. Cada pessoa tem a sua própria individualidade, que no fim é o grande regente dessas relações. E é exatamente por isso que o puerpério é vivido de forma diferente, com uma intensidade diferente e com um tempo diferente por cada mulher.  

Abrindo mão do controle

O antídoto do medo não é a coragem, é a confiança. 

Mesmo confiando plenamente na pessoa que está cuidando do bebê e sendo parte da sua rede de apoio, é muito difícil abrir mão do controle. Você está no meio de uma sessão de terapia, na corrida ou abrindo uma planilha quando se pega pensando se a criança mamou, se comeu, se está tudo bem e, com isso, você não relaxa e curte esse “pause” e fica ansiosa. 

A necessidade do controle vem do medo de que dê alguma coisa errada. Respire e confie. Olhe para o que te sustenta e o que te fez optar por esse caminho, afinal, quem não solta as rédeas do controle perde a felicidade do momento.  

Quando se está presa à rede de controle por não querer “perder nada” é que se acaba perdendo “tudo”, pois não é possível ser onipresente e estar perto o tempo todo. Ficar acompanhando de longe as câmeras do berçário, na expectativa de presenciar algum momento exclusivo, acaba gerando a angústia da separação e da inadaptação. Uma vez que a criança acaba sendo alvo de projeções, absorve o astral e excesso de emoções por parte dos pais e muitas vezes também dos educadores. 

Este padrão de controle segue as mães por anos durante as fases do desenvolvimento. Seja na creche ou no primeiro acampamento, as mães estão lá, olhando as fotos dia a dia ou ansiosas para a volta da escola, quando a preocupação passa a ser com as lições de casa, em que a mãe não relaxa enquanto o filho não faz o dever ou acaba fazendo por ele e, com isso, interfere na própria autonomia dos pequenos.  

Quando falamos em “mimar” uma criança não estamos falando em excesso de amor. Amor nunca é demais. O mimar significa fazer pela criança coisas que ela teria capacidade para fazer, mas você não consegue relaxar no controle e deixar a criança fazer sozinha. Mais uma vez, a culpa se faz presente e é um círculo vicioso, afinal, essa mãe se cobra por não ter estado com o filho durante o dia e quer fazer pelo filho tudo o que não pôde neste tempo. 

É essencial confiar e permitir dar espaço para a criança respirar. Observar de longe e dar aos filhos tempo de qualidade. Seja numa conversa, num jantar com todos sentados à mesa, numa rotina do sono, fazendo disso um momento especial; 

É fundamental que os limites sejam respeitados e equalizados nos primeiros momentos da infância, para que as crianças cresçam e sejam adolescentes com autonomia e convivência pacífica. 

Viva o dia de hoje. Respire e saia do trilho da ansiedade. Seja gentil consigo mesma e pratique a autoeducação e o autodesenvolvimento de confiança. Mentalize que o que foi estabelecido na sua rede de apoio foi uma construção.  

Quanto mais natural for o ambiente e a adaptação, mais tranquila será a jornada. 

Autoeducação e autodesenvolvimento no puerpério

Algumas dicas para fortalecer a relação consigo mesma

  • Permita-se viver o puerpério. É um ritual de passagem, uma fase em que é necessário mergulhar. A mulher que tem a sorte de se recolher neste período e olhar pra si estabelece novas relações consigo mesma, com o bebê e o mundo;  

  • A rede de apoio é primordial para organizar a nova rotina com a capacidade de incluir ao máximo as atividades que eram antes realizadas. É um ponto-chave e deve ser construída de acordo com cada realidade. Seja com o companheiro ou companheira que tenha mais flexibilidade, com a mãe ou a avó.  

  • Pratique a autoeducação e o autodesenvolvimento de confiança. Mentalize que o que foi estabelecido na sua rede de apoio foi uma construção. Ao ser gentil consigo mesma, essa relação vai ficando ainda mais fortalecida.  

  • Viva o dia de hoje. Respire e saia do trilho da ansiedade.